domingo, 24 de setembro de 2006

Em terra de cegos...

Por aqui se ficou a saber que o ME disponibilizou às Câmaras Municipais €250/aluno/ano para as actividades de "enriquecimento curricular", verba que incluía uma estimativa de €15 euros/hora para pagamento dos professsores a contratar para essas actividades.
As Câmaras Municipais, essas instituições “democráticas” que prosseguem o bem público e exercem a sua actividade no respeito pelo pricípio da legalidade estão, alguma delas, a pagar €5 (cinco) euros/hora ao professor de Inglês que ensina os alunos, depois de terminadas as aulas - "escola a tempo inteiro" dizem os pedabobos - explorando aqueles que o estado já havia enganado induzindo-os (ou, na melhor das hipóteses, não os alertando como seria sua obrigação) a tirar um curso superior para o desemprego.
E os 10 euros que estas instituições locais - principal conquista de Abril, dizem os que estão há mais de 30 anos a beneficiar do caciquismo local - põem ao bolso por cada aluno servem para quê?
Para três coisas, consoante o "eleito local": 1º - para financiamentos terceiro-mundistas (futebol, passeios de 3ª idade e passeios da juventude) ; 2º - para finaciamentos particulares; 3º - para caçar votos e tornar os cidadãos subsídio-dependentes, como acontece com as refeições escolares. Cada Direcção Regional de Educação financia com mais de 30 euros mês/aluno as Câmaras Municipais (e não as famílias e os alunos, como deveria ser) a título de comparticipação nas refeições dos alunos do 1º ciclo. Estas instituições "exemplo" ao invés de comparticipar as refeições de todos os alunos fazem uma gestão das comparticipações de acordo com as dificuldades económicas das famílias - avaliadas pelos serviços camarários e pelas Juntas de Freguesia. Ou seja, avaliadas políticamente. Resumindo: as Câmaras "desviam" parte do subsídio atribuido pelo estado, o qual nunca chegará a comparticipar as refeições dos alunos filhos de pais "ricos", para fazerem política sócio-eleitoral: pagam a totalidade da refeição e outras despesas aos alunos "mais carenciados".
É por estas e por outras que já não me admiro que haja 2.5 milhões que querem mudar.
Reitor

1 comentário:

  1. Caro Sr. Reitor

    Caricaturalmente a visão apresentada do "Poder Local" pode induzir os mais incautos a desmerecerem totalmente do mesmo. Estou de acordo que possa ter havido aproveitamentos indevidos por parte de autarcas dos fundos destinados ao ensino. Concederei até que os mesmos possam constituir, no conjunto do país, um grupo numeroso embora não tenha dados concretos. Estou disposto a aceitar, sem grande esforço, que mesmo nos casos restantes estes dinheiros pudessem ser geridos com mais parcimónia.
    O que não estou de acordo é partir daqui para a generalização pejorativa da venalidade do Poder Local. De facto, penso que, apesar de tudo, este poder contribuiu para o desenvolvimento do país, constituiu-se como uma conquista das populações contribuindo para o seu desenvolvimento social. É certo que os modelos nem sempre são os mais adequados, nem sempre correspondem aos ideais que perseguimos. Mas que diabo, 30 anos são muito pouco na História do país. Passe o lugar-comum mas antes de perguntarmos o que pode fazer por nós o Poder Local porque não nos interrogamos sobre o que podemos fazer por ele?

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