quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Valeu a pena?

A PSP agiu, pressurosamente, em Braga, apreendendo cinco exemplares de uma obra cuja capa reproduzia o quadro de Courbet, “L’origine du monde”.
A exibição do sexo de uma mulher chocou inúmeras mentes bracarenses justificando a intervenção policial pondo, de pronto, cobro ao perigo em que a Pátria se encontrava.
Ficaram descansados os inquietos vigilantes zelotas bracarenses e ficou orgulhosa a PSP pelo elevado estado de prontidão demonstrado quando esteve em causa a segurança de pessoas. Os portugueses podem dormir tranquilos que a PSP vela para que perigosos energúmenos não atentem contra a “moral e bons costumes”. É de louvar a rapidez de actuação da PSP quando se tratou de apreender livros como, aliás, sempre o faz quando é chamada a intervir em outras situações perigosas contribuindo, decisivamente, para que o grau de sucesso de actos criminosos no país seja baixíssimo.
Mas eis que grande número de cidadãos se levanta contra o heróico comportamento da PSP levando-a a arrepiar a caminhada diligente que encetara … Ingratamente, muitos, que não inúmeros, portugueses atreveram-se a criticar a glorioso e corajosa surtida da PSP.
Vencida mas não convencida, a PSP veio a terreiro justificar-se: agiu porque recebeu inúmeras queixas. Recuou, depois, porque verificou que o objecto criminal era, apenas e tão só, uma “obra de arte”. A PSP não apresentou desculpas pela sua actuação, não reconhece que errou! Parece ter agido apenas porque o número de protestos contra a sua actuação foi superior ao das “inúmeras” queixas que, por toda a parte, foram aparecendo.
É preocupante pensar que a PSP age em função do número de queixas e não cuida de saber, primeiro, se há ou não matéria para actuar. É um pouco como se a PSP disparasse meia dúzia de rajadas para o interior de uma habitação só porque seis, sete, vá lá… oito cidadãos se lhe queixassem que lá dentro se acoitava um perigoso bando. Não se indagava, não se espreitava por uma janela nem se perguntava aos vizinhos… Disparava-se e depois logo se via. A lógica do “dispara-se primeiro, fala-se depois” ainda não foi erradicada de uma força policial cuja filosofia de actuação deveria ser a de respeito pelos valores da Liberdade e da tolerância.
Não deixa de ser curioso o facto de, que se saiba, os inúmeros cidadãos de Braga (ou de outro sítio qualquer) não se queixarem à PSP das capas de revistas que penduradas nos quiosques reproduzem mulheres desnudadas para os olhos das criancinhas. Não deixa de ser curioso não se ver cidadãos queixarem-se dos filmes e novelas a que, no doce remanso do lar, assistem contemplando ninfas cujos atributos fariam parar o trânsito.
Mas mais curioso ainda seria ver quais as medidas cautelares da PSP para estes casos.
Se o número de queixosos se justificasse a PSP convocaria os GOI’s para atacarem as instalações da TVI e apreenderem as cassetes? Chamaria o Grupo de Minas e Armadilhas para dinamitarem os quiosques?
Que país pequenino este!
Que frustração deve sentir António Lopes, o livreiro proprietário dos livros apreendidos, quando se lembra do tempo que passou preso pela PIDE, precisamente por se manifestar contra o fascismo e a falta de Liberdade!
Valeu a pena?

Director-geral

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