terça-feira, 30 de março de 2010

Escolas Públicas ou Escolas Privadas? Prefiro Escolas Apenas.

O texto de João Ruivo, que está aqui, suscitou-me algumas reflexões que vos deixo em forma de "notas". Aqui vai:

"Para onde vai a escola pública?
A escola pública é, talvez, a maior conquista educacional da sociedade portuguesa das últimas três décadas. Uma escola democrática, inclusiva, de todos e para todos, que valorize a cidadania, a aprendizagem, a formação e a educação de crianças e jovens, não pode ser mais um dos mitos elaborados no seio das ciências da educação.

Nota 1 - A maior conquista educacional da sociedade portuguesa das últimas 3 décadas NÃO foi, certamente, a "Escola Pública". Por várias razões. Desde logo porque a escola pública (e a privada) já existia muita antes de 1980. Existem há muito mais de três décadas. Talvez J. R. acertasse mais se dissesse que a verdadeira conquista educacional das últimas décadas foi o acesso em massa das crianças à escola.
Nota 2 - A escola de hoje não valoriza a cidadania nem a aprendizagem. Pelo contrário, acolhe outros "valores", como por exemplo, a irresponsabilidade, a inimputabilidade, o salve-se-quem-puder, o Estudo Acompanhado... mas não a cidadania nem a aprendizagem. Estas coisas dão muito trabalho e requerem muito esforço por parte dos alunos e das famílias.

Antes é uma realidade que se tem vindo a construir dia a dia, com muito esforço e sacrifício de toda a comunidade escolar, porque é um princípio por que vale a pena lutar, já que fortalece a democracia e a construção de um mundo com mais harmonia e mais respeito pela natureza e pela pessoa humana.

Nota 3 - Segundo os dados estatísticos do PORDATA, a escola Pública é "uma realidade que se tem vindo" a esvaziar "dia após dia". Ao contrário, a escola privada é que é uma realidade que se robustece dia após dia.

Os professores estão de parabéns. Com a defesa da escola pública têm dado, mais do que ninguém, um contributo inigualável para o atenuar das desigualdades sociais e para a futura construção de um Portugal, também ele menos desigual.

Nota 4 - Qualquer estudo, português ou comunitário, identifica Portugal como um dos países da Europa onde há mais desigualdade e um daqueles onde mais se têm acentuado as desigualdades sociais. Desigualdade também entre homens e mulheres. Desigualdade na distribuição dos rendimentos. A escola pública não ajudou a sociedade a atenuar as desigualdades sociais, antes pelo contrário, tem vindo a ser um instrumento que favorece as assimetrias sociais.

Não estranha, pois, que nesta infeliz conjuntura de desalento e de fortes emoções, os profissionais do ensino com mais consciência social e cultural vejam os perigos que espreitam a esta escola democrática, erguida sobre a estrutura de um ensino elitista que o Portugal do após 25 de Abril herdou da ditadura.

Nota 5 - Os "profissionais com mais consciência social e cultural" ou seja, os comunistas e os extremistas recauchutados da velha esquerda, com o seu relativismo moral, a defesa cega do eduquês, da escola inclusiva, sem exames, sem dificuldades, sem disciplina e onde mandam as maiorias de braço no ar, estão a desmantelar a escola pública e a torná-la pior que a escola que herdaram da ditadura.

Porém, o então ainda sonho de pensar uma escola que promovesse a igualdade de oportunidades e atenuasse as desigualdades sociais viria a revelar-se como uma das grandes motivações para a acção das últimas décadas do século XX.
Conseguiu-se ainda pouco? Estamos a trabalhar para resultados que apenas serão visíveis daqui a duas ou três gerações? As políticas educativas encheram o caminho de obstáculos difíceis de ultrapassar?

Nota 6 - Blá, blá, blá. Os Amanhãs que Cantam...

É verdade: nas respostas a estas questões temos que dar o nosso acordo. Todavia, isso não invalida que, mesmo os mais cépticos, não reconheçam que as democracias europeias estão longe de poder inventar uma outra instituição pública capaz corresponder, com tanta eficácia, às demandas sociais, quanto o faz ainda hoje a escola pública de massas. Mesmo sabendo-se que há fenómenos, mais ou menos recentes, que colocam em causa os pressupostos dessa mesma escola pública, como o são o aumento da violência nas escolas e generalização do bullying (sobretudo o mais sagaz e traiçoeiro, que é o que utiliza a internet e as SMS), o abandono e o insucesso escolar, a reprodução das desigualdades dentro da comunidade educativa, a incapacidade de manter currículos que valorizem para a vida, a erosão das competências profissionais dos docentes, acompanhada pela perda de estatuto remuneratório e social.

Nota 7 - Não são as ideias da esquerda que estão erradas e que têm produzido a indisciplina e os péssimos resultados escolares. Não. O que perturba a chegada do amanhã que canta são os "fenómenos mais ou menos recentes que colocam em causa os pressupostos dessa mesma escola pública".

Infelizmente, hoje a vida nas escolas é muito menos atraente para quem nelas estuda e trabalha e a desmotivação dos professores e dos educadores acentuou-se com as medidas de política educativa que desvalorizaram a educação, que menorizaram a profissionalidade docente, e que, invariavelmente, conduziram à degradação das condições de trabalho de quem ensinava e de quem aprendia. Todos sabemos, ou julgamos saber, como deve ser e o que deve ter uma escola pública que promova a aprendizagem efectiva dos seus aprendentes e o bem-estar e a profissionalidade dos seus formadores.

Nota 8 - A escola pública só não tem promovido a "aprendizagem efectiva dos seus aprendentes" (SIC) por causa das más políticas educativas...

Todavia, há um grave problema que introduz toda a entropia nas escolas: é quando os governos se deitam a fazer contas sobre quanto custa garantir esses direitos. Sobretudo, quando a classe política sabe que o investimento em educação só produz efeitos a longo prazo, o que não se compagina com a gestão do calendário dos seus curtos ciclos eleitorais

Nota 9 - E por causa dos cortes feito pelos governos nos eurinhos disponíveis.

Não queremos uma escola que seja de baixa qualidade. Por isso, estamos com todos quantos defendem ser urgente relançar a defesa dos princípios fundadores da escola pública. Uma escola que seja exigente na valorização do conhecimento e promotora da autonomia pessoal. Uma escola pública, laica e gratuita, que não desista de uma forte cultura de motivação e de realização de todos os seus membros. Uma escola pública que, enfim, se assuma como um dos pilares da democracia e como um dos motores da construção de um país onde seja orgulhoso viver e conviver.

Nota 10 - Resumidamente: queremos uma escola de qualidade, uma escola de princípios, exigente na valorização do conhecimento e promotora de cidadãos. Ou queremos uma escola pública, laica e gratuita?

Formar a geração de amanhã não é tarefa fácil. Mas será certamente inconclusiva se avaliarmos a escola e o trabalho dos professores apenas segundo critérios meramente economicistas, baseados numa filosofia de desenvolvimento empresarial.

Nota 11 - A busca dos amanhãs que cantam não se compadece com trocos

A escola é muito mais que isso: é filha de um outro espaço social e de um outro tempo matricial. Defender a escola pública, nesta conjuntura de compreensível desilusão, é muito urgente. Por tudo isso, é importante que se continuem a exigir políticas públicas fortes, capazes de criar as condições para que essa escola democrática seja, de facto, universal, gratuita e gratificante, e que se assuma, sem tibiezas, que o direito ao sucesso de todos é um direito fundador da Democracia e do Estado de Direito".

Nota 12 - Gostei sobretudo da metáfora: a escola é filha de uma mãe social e de um pai matricial.


Reitor

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