domingo, 15 de agosto de 2010

Sebenta De Apoio À Melhoria Das Escolas ou Manual Para Venda De PCIs

O professor José Matias Alves concedeu uma entrevista ao DN no passado dia 6 de Agosto, já o Verão ia a pino.
O Professor Matias Alves é um professor de gabarito. Edita o Terrear , é Coordenador do Serviço de Apoio à Melhoria das Escolas da UCP, tem responsabilidades de destaque, juntamente com o Major Valentim Loureiro, na definição dos destinos do município de Gondomar, entre outros serviços à comunidade.
Portanto, aconselha o bom senso que devemos ouvir/ler com muita atenção as suas entrevistas.
E esta que concede ao DN, não só mantém as elevadas expectativas como também se constitui como uma autêntica sebenta que as escolas (e os políticos e toda a sorte de técnicos que se penduram nas várias estruturas do M.E.) podem utilizar para vender o Projecto de Combate ao Insucesso (PCI), perdão, para apoio à melhoria das escolas...
Que diz então de notável o professor José Matias na entrevista ao DN?
- Diz que o Fénix se funda no princípio de que todos têm de aprender mais. Para isso criam-se turmas homogéneas com alguma... diversidade. E compõe com chave de ouro: "o modelo pedagógico baseia-se no princípio da diversidade da resposta, mas há uma grande mobilidade" (sic).
- Diz que em turmas de 8 alunos cada todos aprendem mais (a turma base é dividida em três grupos ou, de outra forma, diz o professor Matias que uma turma de 24 alunos tem três professores por disciplina).
- Diz que os PCI exigem mais recursos mas ficam mais baratos que os chumbos (só não percebe isto quem estiver com reserva moral).
- Diz que, cada aluno custa cerca de 3.300 euros por ano.
Nota aos economistas da educação: Fica sempre bem a um professor universitário apresentar números. Como ninguém sabe ao certo o custo efectivo de cada aluno ao erário público - nem a própria Ministra - o professor atirou um número, digamos, mais ou menos. Eu preferiria o valor de 5.000 euros. Sempre é um número mais redondinho.
-Diz que fica mais barato ao país [do que 3 300 euros, subentende-se] investir em projectos que evitem a retenção.
Nota aos jornalistas: esta é a afirmação menos conseguida do professor pois, apenas por lapso da jornalista, note-se, divulgou o custo por aluno mas não divulgou o custo dos projectos que evitam a retenção. Diz apenas que são mais caros...
- Diz que os PCI têm como objectivo que nenhum aluno fique para trás.
Nota aos incautos: os PCI que o nosso professor lidera e de que é mentor não têm como objectivo, como maldosamente alguns pensam, angariar fundos extra para manterem os lugares nas universidades, escolas superiores de educação, e outras instituições, privadas nos lucros e smipúblicas nos financiamentos, que vivem muito encostadas ao Estado e à custa de projectos inovadores que conseguem - dadas as circunstâncias de tempo e modo - vender aos políticos amigos. Não, nem pensar. Estes projectos pedagógicos põem todos os alunos nos lugares da frente.
- Diz que os pais, inicialmente, eram contra a discriminação dos alunos por grupos de nível de conhecimentos - como resulta objectivamente dos projectos de combate ao insucesso que estão em voga - mas, melhorando os resultados, os pais compreendem e aceitam a coisa.
Nota aos desatentos: Há quem pense que a única forma de os vendedores de PCIs terem mercado é a obtenção de resultados escolares positivos. Em conformidade, para se manter o financimento é necessário dar umas positivas aos alunos. Este pensamento só pode estar errado, pois, a estar certo, destruiria a credibilidade dos projectos TurmaMais e Fénix, ambos apadrinhados pelo M.E.
- Diz que os alunos não são todos iguais.
Nota aos professores mais jovens: vocês que por vezes não têm a paciência que se exige ao sábio, tomem nota desta asserção do prof. Matias: um aluno que viva em Bragança, reside em Bragança e outro que viva em Setúbal, reside em Setúbal. Portanto, não são iguais.
- Diz que Mega-agrupamentos até 2 000 alunos são governáveis e podem justificar-se. Com 2001 alunos já a porca torce o rabo.
Pronto. Este é o resumo dos aspectos principais focados pelo Professor José Matias na entrevista ao DN. Qualquer lapso ou falha de interpretação são da minha inteira responsabilidade.
Reitor

1 comentário:

  1. DIFERENTES SOMOS TODOS NÓS15 de agosto de 2010 às 22:11

    Ainda não li esta entrevista. Vou ler.
    Parabéns pelo Blogue, pelos furos que espreita e pela perspicácia com que interpreta a realidade.
    Estou um bocadinho farto dos Blogues que se limitam a colar entrevistas longas tiradas de jornais.
    Interpretações precisam-se!

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