sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O frio é como a fome, a burrice como a pobreza, a pedinchice como uma moléstia, a cobardia como uma doença e alguns directores como lombrigas.

"...o aquecimento só é ligado quando é absolutamente necessário, pois são gastos em que as escolas apertam o máximo possível"

"Temos os orçamentos estrangulados e a nossa vida é controlar gastos, mas sabemos que o aquecimento é uma das coisas básicas. O frio é como a fome", resume o dirigente da ANDAEP, sugerindo que "reduzindo os custos da gigantesca máquina do Ministério da Educação seria suficiente para suportar o corte previsto".

Dirijo-me a si, Doutor Aldomiro, na qualidade de cidadão parvo, dos que ainda pagam impostos, como vexa certamente.
Devo dizer-lhe que fiquei deveras sensiblizado com as suas proféticas palavras. Não posso estar mais de acordo consigo. De facto, a fome é como o frio. Até me atrevo a dizer mais: o frio é como a fome. Ter frio nos ossinhos e ter fominha no bucho são duas mazelas por que já passei, na guerra obviamente, e nem suporto lembrar.
Senhor doutor, na escola que vejo todos os dias quando abro a persiana, os alunos tiritam nos recreios e nem as telhas, que por eles serpenteiam improvisanado corredores, conseguem abrandar tanto tremor.
Já questionei várias crianças, algumas com barba, e todas me dizem que não há aquecimento na escola. Nem hoje, nem ontem, nem no futuro, quando vierem os cortes que tanto o atormentam, hoje, senhor doutor.
Dizem-me as mesmas crianças que não têm aquecimento nem na sala de convívio, nem na biblioteca onde passam horas a fio a jogar nos computadores e nas palystation.

O que é estranho, injusto e deveria queimar certas e determinadas línguas de palmo, de directores ernestos, extremamente preocupados com os alunos, coitadinhos tanta é a fominha, de frio, claro. O que é estranho, injusto e moralmente desonesto, dizia eu e o senhor doutor concordará comigo, é vermos tantos directores preocupados com a fome dos alunos e estarem, eles próprios, em mangas de camisa nos seus gabinetes aquecidos todo o dia.
Cuidado com estes directores, que não é o seu caso aposto eu, mesmo não o conhecendo, nem pessoalmente nem de figura; cuidado com estes directores, dizia eu, que são do mais falso e desonesto que pode haver: deixam as crianças à fome, de frio, claro, e estão eles próprios a encher a pança, em mangas de camisa, com o gás, o gasóleo e a electricidade de todos nós.

Não há direito

Reitor

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