terça-feira, 3 de janeiro de 2012

A Cartilha Do Modesto

O elogio próprio
... acabo por ter de me lembrar que entrei para a faculdade com 20 valores de media e, portanto, entre outras, acho que essa evidencia, como agora barbaramente se diz, me permitiria fazer algum discurso sobre o que seja Excelência...

Demissão não, talvez, sim!
Por isso, demitir-me por causa da minha adequada avaliação individual foi coisa que não me passou pela cabeça.  
Em Janeiro, do ano passado propus-me demitir-me por causa de questões estruturais do sistema... 
Há uns meses ... numa reunião de directores ...fiz uma proposta simples: ameaçarmos de forma clara com a demissão para mostrar a nossa força. Essa moção, radical, teve menos de meia dúzia (!) de votos em centenas de presentes, incluindo-se neles um adjunto e a subdirectora que me acompanhavam.

Os clientes
Há razoes para me demitir e que me desanimam: faço há 54 meses a gestão de 5,5 milhões de euros anuais, sem ferias, sem horas, sem tempo para as coisas que gosto, num serviço com 6 instalações físicas, 2200 clientes directos (alunos e formandos) mais os pais, que serve centenas de refeições por dia, que tem mais de 250 funcionários (entre docentes e não docentes), com 4 ou 5 projectos do POPH para gerir e que se assume como a maior entidade de acção social de uma comunidade socialmente deprimida.

Presunção e água benta
... Mas gosto do que faço, que escolhi livremente fazer (e lutei judicialmente para tal) por achar que faço alguma coisa para compensar o privilégio que tive de estudar e ter uma vida sem carências.. 
Mas, muitas vezes, ponho-me a olhar para o que escolhi perder e gostava de o recuperar. O salário líquido não compensa e consiste para mim em 1545 euros mensais (incluindo subsidio de refeição e o suplemento de direcção). Estou entre os 20% mais mal pagos do corpo docente do meu agrupamento e qualquer adjunto de Secretaria de Estado sem responsabilidade e, tantos sem currículo, ganha mais …. Como trabalho mal, tive uma redução-premio de 20% do meu rendimento anual para 2012 
Há razoes que animam: algum reconhecimento dos colegas, pais e alunos (que não descrevo aqui para isto não ser uma gabarolice pura) e a sensação de que cumpri o que me comprometi com mais 3 queridos colegas quando pus o Ministério da Educação em tribunal em defesa de um projecto de mudança para o agrupamento

Uma vã promessa
No ano passado, a vida particular, a consciência do que esta mal no sistema e a emoção da perda da minha mãe... deram-me vontade de desistir mas a comunidade (com assinaturas e votações maioritárias) instou-me a levar o mandato ate ao fim. E la chegarei mas dai não passarei.


"Mil cairão ao teu lado e dez mil à tua direita, mas não chegará a ti"



Reitor

1 comentário: